quinta-feira, 3 de julho de 2008

O Maracanã em festa, engalanado em três cores, 80 mil vozes em uníssono, como nunca.

Três fileiras abaixo de mim, vejo Chico Buarque e Ivan Lins.

Jô Soares se aproxima deles, diz que não quer interrompê-los, mas os interrompe.

Acima de mim, muito acima, Nelson Rodrigues e Mário Lago.

Mesmo ateu, o comunista e saudoso ator conversou com Deus e pediu uma licença para descer ao estádio que leva o nome de seu xará, Mário Filho, irmão de Nelson.

O Fluminense flutua no gramado do Maracanã em busca de pintar a América com as três cores que traduzem tradição, diante de uma LDU com vantagem considerável.

Mas, da marquise encantada do estádio lotado, ouve-se um piano que chora e comove, vindo do fundo d’alma, da ponta dos dedos de Arthur Moreira Lima.

O sonho acabou. Ou o sonho vai começar?

O som incendeia a massa tricolor e toca fogo nos Thiagos e companhia.

Uma chuva, ou melhor, uma tempestade de fogos precedeu a entrada dos times em campo, luzes e fogos verdes e grenás, um espetáculo de arrepiar, coisa que os cariocas são capazes de proporcionar como ninguém. Atrás de um dos gols, parte da torcida escreveu com as luzes o nome do Fluminense.

Neeeeeeeeeeeeeenseeeeeeee! Neeeeeeeeeeeeenseeeeeeeeeeee!, era só o que se ouvia.

Olhos abertos, pés no chão, jogo em andamento.

E apesar da pressão inicial do Flu, no quinto minuto Guérron bailou sobre Igor pela direita e serviu Bolaños, que abriu o placar.

Quatro minutos depois, Washington perdeu um gol de maneira inacreditável, respondido por outro contra-ataque quase fatal.

No 10º. minuto a torcida pediu Dodô. No minuto seguinte Thiago Neves empatou, em falha de Cevallos.

Frágil e ingênua, a defesa equatoriana se esqueceu que em arremesso lateral não há impedimento, deixou Cícero livre e dele a bola foi para Thiago Neves virar.

Aos 30 Washington sofreu um pênalti escandaloso e Hector Baldassi fingiu não ver.

Então, o Flu se irritou. E parou. Só Conca insistia.

E ainda teve um impedimento inexistente contra o Flu assinalado pela arbitragem.

O Flu voltou sem Igor e com Dodô. Fez bem.

Aos 6, Dodô bateu na trave, pela direita, o que seria o gol da prorrogação.

Que veio em seguida, com Thiago Neves, de falta, com perfeição.

Faltava um gol para a apoteose tricolor, e nem Washington nem Dodô tinham feito o deles.

Thiago Neves, é claro, pedia permissão para entrar no panteão de heróis das Laranjeiras. Castilho, Pinheiro, Telê Santana, Rivellino, Romerito, Assis, concordavam, sorrindo.

Uma bola na trave de Fernando Henrique, porém, fechou a cara de todos.

E veio a prorrogação.

A LDU não tinha a menor pressa, queria os pênaltis.

Mas o primeiro perigo foi da linha do Equador. O segundo foi de Dodô.

No segundo tempo, a LDU teve um gol mal anulado e Luís Alberto foi expulso no último minuto para impedir o que seria um gol de Gerrón.

Vieram os pênaltis e o goleiro Cevallos pegou três vezes, nas cobranças de Conca, Thiago Neves, que não mereciam tamanho castigo, e Washington.

Uma lástima.

O Maracanã tão generoso com o Santos, com o Corinthians, é ruim com os times do Rio.

Nem Flamengo, nem Vasco, nem Botafogo ganharam seus maiores títulos nele.

E o Fluminense também não ganhou seu maior título no Maracanã.

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