O Maracanã em festa, engalanado em três cores, 80 mil vozes em uníssono, como nunca.
Três fileiras abaixo de mim, vejo Chico Buarque e Ivan Lins.
Jô Soares se aproxima deles, diz que não quer interrompê-los, mas os interrompe.
Acima de mim, muito acima, Nelson Rodrigues e Mário Lago.
Mesmo ateu, o comunista e saudoso ator conversou com Deus e pediu uma licença para descer ao estádio que leva o nome de seu xará, Mário Filho, irmão de Nelson.
O Fluminense flutua no gramado do Maracanã em busca de pintar a América com as três cores que traduzem tradição, diante de uma LDU com vantagem considerável.
Mas, da marquise encantada do estádio lotado, ouve-se um piano que chora e comove, vindo do fundo d’alma, da ponta dos dedos de Arthur Moreira Lima.
O sonho acabou. Ou o sonho vai começar?
O som incendeia a massa tricolor e toca fogo nos Thiagos e companhia.
Uma chuva, ou melhor, uma tempestade de fogos precedeu a entrada dos times em campo, luzes e fogos verdes e grenás, um espetáculo de arrepiar, coisa que os cariocas são capazes de proporcionar como ninguém. Atrás de um dos gols, parte da torcida escreveu com as luzes o nome do Fluminense.
Neeeeeeeeeeeeeenseeeeeeee! Neeeeeeeeeeeeenseeeeeeeeeeee!, era só o que se ouvia.
Olhos abertos, pés no chão, jogo em andamento.
E apesar da pressão inicial do Flu, no quinto minuto Guérron bailou sobre Igor pela direita e serviu Bolaños, que abriu o placar.
Quatro minutos depois, Washington perdeu um gol de maneira inacreditável, respondido por outro contra-ataque quase fatal.
No 10º. minuto a torcida pediu Dodô. No minuto seguinte Thiago Neves empatou, em falha de Cevallos.
Frágil e ingênua, a defesa equatoriana se esqueceu que em arremesso lateral não há impedimento, deixou Cícero livre e dele a bola foi para Thiago Neves virar.
Aos 30 Washington sofreu um pênalti escandaloso e Hector Baldassi fingiu não ver.
Então, o Flu se irritou. E parou. Só Conca insistia.
E ainda teve um impedimento inexistente contra o Flu assinalado pela arbitragem.
O Flu voltou sem Igor e com Dodô. Fez bem.
Aos 6, Dodô bateu na trave, pela direita, o que seria o gol da prorrogação.
Que veio em seguida, com Thiago Neves, de falta, com perfeição.
Faltava um gol para a apoteose tricolor, e nem Washington nem Dodô tinham feito o deles.
Thiago Neves, é claro, pedia permissão para entrar no panteão de heróis das Laranjeiras. Castilho, Pinheiro, Telê Santana, Rivellino, Romerito, Assis, concordavam, sorrindo.
Uma bola na trave de Fernando Henrique, porém, fechou a cara de todos.
E veio a prorrogação.
A LDU não tinha a menor pressa, queria os pênaltis.
Mas o primeiro perigo foi da linha do Equador. O segundo foi de Dodô.
No segundo tempo, a LDU teve um gol mal anulado e Luís Alberto foi expulso no último minuto para impedir o que seria um gol de Gerrón.
Vieram os pênaltis e o goleiro Cevallos pegou três vezes, nas cobranças de Conca, Thiago Neves, que não mereciam tamanho castigo, e Washington.
Uma lástima.
O Maracanã tão generoso com o Santos, com o Corinthians, é ruim com os times do Rio.
Nem Flamengo, nem Vasco, nem Botafogo ganharam seus maiores títulos nele.
E o Fluminense também não ganhou seu maior título no Maracanã.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
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