A CADELA PERNETA

Era só ele e ela, amigos desde que o garoto Denílson completará seus 11 anos. Juntos foram desenvolvendo a mesma paixão pela bola, tardes e tardes indo para lá e para cá. Dribles, chapéus, toques de classe, o garoto passava a fazer toques mágicos com a bola, enquanto a cadelinha corria de um lado para o outro, disparando leves mordidas pela canela e batata a fora.

Anos foram passando e o Denílson chegando a categorias de base do São Paulo, mas o treino perfeito para ele ainda era suas tardes de futebol com sua cadela, pelo vão das pernas, meia lua, velocidade para correr com a bola dominada e ela sempre atrás, mordendo o calcanhar de Aquiles.

Tinha ele feito uma jogada brilhante, como essas que anos depois pudermos ver na seleção, mas nessa tarde após o drible desconcertante ele bate para o gol imaginário, a bola vai longe pelo ar, passa por um burro que pastava enquanto pensava, atravessa a rua, sendo seguida de perto pela cadelinha, a qual da um salto magistral pegando a bola em uma só mordida, e antes dela tocar o chão vem um caminhão, que ninguém anotou a placa, passando por cima da pobre coitadinha. Só se houve um gemido de dor, angustia e quando o garoto chega para salvá-la, já era tarde demais, lá estava a cadela estirada no asfalto com as tripas de fora, mas ainda com a bola na boca.

A partir deste dia o promissor Denílson nunca mais conseguiria chutar com precisão para o gol, fazer a alegria máxima da torcida, meter a bola na rede. Seus dribles ainda são vistos, bonitos e alegres, de olhos fechados ele vê o zagueiro adversário como se fosse a sua cadela perneta, mas na hora da conclusão, a sua trágica lembrança não o deixa fazer o gol. Neste domingo, Palmeirenses de coração vão torcer mais uma vez para a cadela perneta ser esquecida pelo grande atacante dentro da área, já os bambis deveriam levar cartazes de cachorro para Ribeirão e gritar muito auau!!